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quarta-feira, 8 de junho de 2011

A Lenda Do Flautista de Hamelin

Hamelin era  muito parecida com as outras cidades da região: casas de pedra, traves de madeira escura, telhados em bico por causa da neve, grandes chaminés, uma porta para as pessoas e outra para os animais, que dormiam em estábulos no meio da palha.
As crianças viviam com os pais e com os avós, numa existência tranquila. Ajudavam a tratar dos campos, mungiam a vacas, iam buscar água aos poços e lenha aos bosques em redor. À noitinha recolhiam o gado e instalavam-se perto do lume a ouvir histórias de fadas e bruxas, coisas antigas que os velhos contavam cheios de paciência, enquanto aqueciam o corpo bebendo canecas de cerveja feita em casa pelas mulheres.
Às vezes aconteciam coisas alegres, outras vezes coisas muito tristes, que o sino da igreja anunciava tocando a rebate se se tratava de um incêndio, devagar se tinha morrido alguém, num ritmo festivo para casamentos e batizados.
Só não tocou para avisar dos ratos porque ninguém saberia explicar em que momento deixaram de ser meia dúzia de bichos incómodos para se transformarem numa praga! Os pequeninos cresciam. Os grandes multiplicavam-se. Ninhadas completas percorriam as ruas, infestavam as casas e celeiros devorando tudo o que encontravam para comer.
As pessoas andavam aflitíssimas . Por mais que usassem pedras e varapaus não conseguiam ver-se livres daquele tormento.
Certo dia apareceu às portas da cidade um homem alto , magro, de barbicha pontiaguda e olhos oblíquos. Vestia roupa de muitas cores e não trazia outra bagagem além de uma flauta enfiada no cinturão.Ninguém o conhecia mas nessa tarde juntaram-se a contemplá-lo, perdidos de espanto. É que aquele homem tocava como nunca se tinha visto tocar naquela bandas! Ao primeiro sopro, a música prendia de tal qual um fio invisível que se fosse enrolando à volta dos braços, das pernas, do corpo, até lhes imobilizar o pensamento.
«Quem é este homem?», pensavam.«Que magia o faz tocar assim?»
O homem sorria enigmático e continuou a tocar até sentir que acreditariam em tudo o que lhes dissesse.
Quando finalmente parou já o Sol mergulhava no horizonte.Mas as pessoas ficaram ali, possuídas de uma sensação estranha. Era como se a música pairasse ao sabor do vento e pudessem ainda ouvi-la dentro do seu coração.
- Cheguei para vos libertar dos ratos - declarou muito sério e seguro do que dizia. - Posso levá-los comigo para onde eu quiser.
A população agitou-se. Seria verdade?  Não seria?
Quem tomou a palavra foi o alcaide. Responsável pela cidade, incapaz de resolver o prolema que há muito os atormentave, decidiu arriscar uma proposta:
- Se fores capaz de fazer o que dizes dar-te-ei uma bolsa recheada de moedas de oiro.
Muito bem - respondeu ele. - Aceito.
De novo levou a flauta à boca e pôs-se a soprar muito baixinho. Agora os sons eram diferentes. A música surda, repetitiva, reproduzia a cadência própria dos roedores em ação.
Os habitantes da cidade mal podiam acreditar no que os seus olhos viam!
Das casas, dos celeiros, das sacas, dos barris saíam ratos, ratinhos, ratazanas, e, atraídos por aquela estraha melodia, seguiam o flautista pelas ruas da cidade, caminhando de forma ordeira como um batalhão de soldados. Tranpuseram a medalha, atravessaram a ponte e desapareceram sem deixar rasto!
A alegria foi tanta que resolveram festejar. Acenderam-se grandes fogueiras no meio da praça, o sino repicou alegremente, velhos e novos dançaram até de madrugada, cantando em plenos pulmões:
- Estamos livres! Livres da rataria!
No dia seguinte, porém, quando o flautista apareceu para buscar a sua recompensa o entusiasmo esfriou. Porque lhe haviam de lhe pagar uma bolsa de moedas de oiro? Bastara-lhe tocar alguns acordes e os ratos sumiram para sempre!
Decidiram pois esquecer o acordo.
O alcaide, tão ingrato como o seu povo atirou-lhe uma, apenas uma, moeda de oiro, dizendo:
- O serviço não vale mais.
Pálido de raiva, deixou-se ficar de braços caídos e a moeda rolou pelo chão saltitando nas pedras da calçada.
As pessoas aguardaram em silêncio, curiosas mas sem grande receio, porque eram muitos contra um.
Qu poderia ele fazer para se vingar? Aparentemente, nada. Rodou nos calcanhares e dirigiu-se à porta da cidade. Depois, muito calmo, levou a flauta aos lábios e soprou.
Uma melodia simples elevou-se no ar. Tão simples que os homens e mulheres respiraram de alívio.
«Perdeu o jeito!», pensavam. «Estas notas são todas iguais, já não encantam ninguém.».
Mas logo a seguir foram invadidos por uma onda de inquietação.
As crianças, todas as crianças, corriam atrás do flautista, hipnotizadas pela sua música, como antes delas os ratos tinham feito! E seguiram-no para fora da cidade, de forma alegre e desordeira, como só as crianças sabem caminhar.
De nada serviram rogas, chamamentos. O flautista partiu para sempre, levando as crianças atrás de si. E a cidade ficou triste, muito triste, mergulhada em silêncio.

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